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4/18/15

Faleceu o Padre Valente ! - Histórico de vida

E já se passaram 7 anos!
Histórico de vida do Padre Joaquim Antunes Lopes Valente, Professor e Amigo falecido no passado dia 18 deste mês no Lar de Santa Teresinha de Cucujães. 
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O Padre Joaquim Antunes Lopes Valente nasceu em 30 de Outubro de 1926, no Louriçal do Campo, Concelho de Castelo Branco, Diocese da Guarda.
Entrou no Seminário das Missões de Tomar em 1940.
Fez a sua primeira Consagração Missionária em 15 de Setembro de 1950.
O último ano de Teologia foi passado como Prefeito e Professor em Tomar (1952-1953).
Foi ordenado sacerdote em 26 de Julho de 1953, no Seminário de Cucujães.
De 1953 a 1955 cursou Direito Canónico na Universidade Católica de Salamanca (Espanha).
Foi Director e Professor dos Teólogos e Vice‑Reitor de Cucujães.
Em 29 de Outubro de 1957 partiu para a recém‑criada Diocese de Porto Amélia (Pemba), no norte de Moçambique.
Foi Secretário da Diocese, Vigário Geral e Director do Colégio diocesano São Paulo. Foi um dos mais próximos colaboradores do primeiro Bispo da Diocese, D. José dos Santos Garcia.
Tomou parte nas Assembleias Gerais da Sociedade Missionária da Boa Nova em 1968 e 1974, 1986 e 1990.
Em Abril de 1975 regressou a Portugal.
Em Abril de 1977 parte para o Brasil, para a Paróquia de Alto Piquiri (Paraná, Brasil).
Pouco depois, toma posse da Paróquia de Sete Quedas (Mato Grosso do Sul).
Era uma paróquia nova onde teve de construir quase tudo: Igreja, casa paroquial, centro catequético. Dedicou-se muito à formação de Leigos e à evangelização pela rádio.
Além de Pároco, foi também Superior Regional dos nossos Missionários no sul do Brasil.
Colaborou com Tribunal eclesiástico do Mato Grosso do Sul.
Em Agosto de 2001, regressa a Portugal muito doente (diabetes e outras complicações). Restabeleceu-se no Louriçal do Campo em casa da sua irmã Mariana.
Os últimos anos foram passados no Seminário de Cernache e no nosso Lar de Santa Teresinha, onde acaba de falecer.
O Seminário das Missões de Cucujães promoveu as exéquias no dia 19 de Abril, às onze horas. Foram presididas por D. José dos Santos Garcia que, apesar dos seus 95 anos, veio de Aldeia do Souto. Agradeceu a Deus a vida deste colaborador com quem sempre podia contar como homem fiel e dedicado.
A celebração do Funeral foi no dia 20 de Abril em Louriçal do Campo, presidida pelo sr. Bispo da Guarda, D. Manuel Felício da Rocha.
Louvou a família do P. Joaquim Valente, uma família de padres e religiosas e a paixão do P. Joaquim pela Missão, que o levou a dedicar-se profundamente ao povo moçambicano e a recomeçar tudo no Brasil onde fez longo trabalho.
Participaram uma dúzia de padres, todo o povo do Louriçal e amigos de várias partes do país.
(P. M. N. - 22/04/08).

Em 18 de Abril de 2008 partiu o Padre VALENTE!

E já se passaram 7 anos!
A notícia chegou a minha cx. postal assim bem simples, resumida, dura:
  • Acabei de receber a notícia do falecimento do Sr.Padre Valente. Aconteceu hoje, 18.04.08, por volta das 18H30 em Cucujães, onde estava a residir há pouco tempo. O seu funeral vai realizar-se na sua terra natal - Louriçal do Campo, concelho de Castelo Branco - no próximo Domingo, 20.04.08, pelas 15 horas. E assim mais um amigo nos deixou. Que Deus lhe dê o eterno descanso. M. C.
O Padre Joaquim Antunes Lopes Valente marcou a vida de muitos de nós que vivenciamos a adolescência dos anos 60/70 na então Porto Amélia. Fundou e dirigiu nessa época, por decisão do Bispo de Porto Amélia D. José dos Santos Garcia (que reside na Aldeia do Souto - Guarda - Portugal com 95 anos de idade) o Colégio de São Paulo, pertencente à Diocese de Porto Amélia hoje Pemba. E espelhamos em nosso comportamento como adultos já maduros, onde quer que estejamos situados no nosso dia a dia, muito do que apreendemos nessa instituição pioneira em Cabo Delgado e do que o pulso firme do Padre Valente nos transmitia com sua personalidade um tanto rude, de poucos sorrisos mas constantemente generosa. É assim que o recordo e, em nossos convívios virtuais e reais, sua figura é citada com respeito, amizade. E agora o será mais ainda e com saudade ! Que descanse em paz e Abençoe lá do Alto seus "lapussos"!
O que diz um de seus ex-alunos do Colégio Liceal de São Paulo:
  • Morreu o homem que foi responsavel pelo funcionamento da primeira instituição de ensino secundario em Cabo Delgado. Eu, os alunos do Colégio Liceal de Sao Paulo e a cidade de Pemba devemos-lhe muito. Logo após a Independência de Mocambique veio revelar-se, que a obra do padre Joaquim Antunes Lopes Valente, o grande homem que hoje choramos, viria a contribuir significamente até mesmo para o implantação do novo país ao provedenciar quadros de alto nivel para a gestão e afirmação da jovem nação.
    Aproveito o ensejo para afirmar aqui o que vários colegas já me ouviram dizer muitas vezes: - Os dirigentes e altos funcionarios provenientes do nosso Colégio, fazem parte de um grupo, infelizmente não tao numeroso quanto desejariamos, de responsáveis íntegros deste jovem pais. Não vou mencioná-los porque além de competentes e honestos são também humildes. Quem sabe uma outra qualidade consolidada num Colegio tão competentemente dirigido pelo padre Valente.
    Tenho esperanca que outros com mais jeito para estas coisas ponham aqui nestas paginas claramente o quanto devemos a este grande missionario a quem Moçambique deve muito.
    Minha solidariedade para a familia enlutada. - C. M.

7/08/09

Ecos da imprensa moçambicana: Escolas dos distritos recebem computadores

O ministério da Ciência e Tecnologia vai distribuir até ao final de Julho corrente cerca de 1000 computadores a 44 escolas em igual número de distritos do país.

Hoje, o MCT vai entregar computadores à Escola Secundária de Angoche (no distrito do mesmo nome), Escola Secundária de Mossuril (no distrito de Mossuril), Escola Secundária da Cidade Alta (no distrito de Nacala-Porto) e ao Instituto Agrário de Ribáwè (no distrito de Ribáwè), todos na província de Nampula. Cada escola receberá 20 computadores destinados aos alunos, devendo ser usados como instrumentos de apoio ao processo de ensino e aprendizagem. Esta iniciativa insere-se nos esforços do Governo com vista à expansão do acesso das populações às Tecnologias de Informação e Comunicação e redução do fosso digital.
- Maputo, Quarta-Feira, 8 de Julho de 2009:: Notícias.

1/07/09

Associação Mozambique Matters, TIOS, os orfãos de Moçambique... e "três coisinhas"!

Tentando multiplicar solidariedade, transcrevo por sugestão: "Enviaram-me este mail e julgo que este pedido poderá interessar a todos que querem apoiar a causa da educação em Moçambique. Se entender postar nos blogs, deixo ao seu critério." - M. P.

Mozambique Matters- é importante !!!

Olá a todos,
Tenho uma amiga, a Mariana que está responsavel por um projecto de solidariedade em Moçambique da Associação Mozambique Matters, com o nome de TIOS ("T"- stands for training, "I"-stands for international, "O"-stands for orphans and "S"-for survival, Treinamento Internacional de Orfaos e a sua Sobrevivência).

A Mariana está então encarregue de tentar fazer chegar a Mocambique todo o material necessário para a sustentabilidade e sobrevivência destes orfãos.

Outro dia ela pediu se lhe podia arranjar umas agulhas para enviar para uma das escolas da Mozambique Matters.

Disse lhe que sim, ajudava com todo o gosto, mas pensei que eu sózinho em pouco podia ajudar a que a situação mudasse. Lembrei me entãao de mandar um e.mail a todos os meus amigos e família a pedir uma ajudinha, pois se nós todos dermos um bocadinho se calhar já se nota.

O material que faz mais falta nestas "escolas de sobrevivência" é:

  • - Agulhas de coser ou bordar;
  • - Pincéis;
  • - Tinta Acrílica.

Afinal apenas estas três coisinhas!

Esta Associação como devem esperar tem mais projectos e mais pontos de acção, se quiserem e tiverem curiosidade podem ver todo o seu trabalho no site Mozambique Matters. Aqui pode-se ver também o projecto para o qual ela nos pede ajuda.

Vamos tentar ajudar nestas três coisinhas. Deixo aqui em baixo o nome, número e e.mail da Mariana para que lhe possamos enviar o material que ela fará chegar a Moçambique.

MUITO OBRIGADO! - Francisco Gomes da Costa e Eduardo.

E eu acrecento: Através dessas "três coizinhas" simples mas importantes, quem sabe possamos sentir que a vida não é só violência, guerra... E consigamos "contaminar" este ano de 2009 que agora se inicia, com alguma paz de espírito e alegria, oferecendo bondade para com os filhos do infortúnio em Moçambique...? Quem sabe?

7/29/08

Pemba vai formar em breve engenheiros informáticos e biólogos - II

Complementando o post de 13 de Março de 2008:
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UniLúrio abre nova faculdade em Pemba - Até finais do próximo mês a Universidade de Lúrio (UniLúrio) pretende abrir em Pemba, cidade capital da província de Cabo Delgado, uma nova faculdade para leccionar os cursos de licenciatura em Engenharia Informática e Ciências Biológicas.
A instituição, que será chamada Faculdade de Engenharia e Ciências Naturais, vai abrir as portas com 80 estudantes divididos em duas turmas, sendo uma para cada curso, um corpo docente composto por oito professores e ainda os membros da direcção da instituição. Numa primeira fase, a nova faculdade da UniLúrio vai funcionar nas instalações do Centro de Pesquisa Ambiente Marinho e Pesqueiro, em Chuíba, onde também estarão disponíveis um laboratório, uma biblioteca e um auditório, para além das duas salas de aulas. De referir que a UniLúrio, uma instituição pública de ensino superior, possui a sua sede na cidade de Nampula e funciona apenas há um ano.
- Maputo, Terça-Feira, 29 de Julho de 2008:: Notícias
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Mais notícias sobre o ensino em Cabo Delgado e Moçambique:
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Escolas profissionais estão a ser equipadas - No quadro da reforma do ensino técnico-profissional, arrancou no país a reabilitação e/ou ampliação das escolas daquele subsistema de educação no nosso país, com vista a responder à cada vez maior agressividade do sector empresarial e à necessidade de adequar o ensino às actuais exigências dos mercados nacional e internacional, à luz de um co-financiamento do Governo moçambicano e do Banco Mundial, avaliado em 37.5 milhões de dólares norte-americanos, dos quais 30 milhões são um empréstimo e 7,5 donativo do Governo da Holanda.
Do total, apenas 22 milhões de dólares é que estão destinados à reabilitação e ampliação de infra-estruturas físicas das escolas técnicas e o remanescente estará virado para a componente formação e o desenvolvimento de vários estudos sobre o futuro da formação profissional no nosso país.
O lançamento do processo teve lugar na cidade de Pemba, em Cabo Delgado, com o início da reabilitação e ampliação da Escola Industrial e Comercial daquela cidade, cerimónia considerada uma miniatura de toda a reforma que se pretende no ensino técnico-profissional.
Zeferino Martins, Director do Programa de Reforma do Ensino Profissional, precisou que a reabilitação e ampliação da Escola Industrial e Comercial de Pemba não visa criar condições para que acolha mais estudantes, mas somente para que os existentes possam aprender em condições relativamente melhores.
Com um rácio de 50 alunos por turma, a Escola Industrial e Comercial de Pemba era considerada como estando a funcionar em condições não-recomendáveis no ensino técnico-profissional e a seguir à reabilitação passará a ministrar cursos de Hotelaria e Turismo, por razões que Zeferino Martins considera óbvias, numa região onde o turismo está cada vez mas a apresentar-se como o elo mais forte da economia.
“Temos que nos preparar para os desafios que o turismo nos coloca agora e nos próximos tempos. Se não formarmos homens para correspondermos à demanda, que não venhamos a chorar quando tais homens vierem de fora para trabalhar no nosso país por falta de nacionais formados”, alertou Zeferino Martins.
Na verdade, a Escola Industrial e Comercial de Pemba que Martins considera moderadamente degradada, beneficiou duma injecção de fundos avaliados em perto de 860 mil dólares norte-americanos, com o qual vai expandir os seus edificios para melhorar a acomodação dos alunos, a reabilitação ou renovação do sistema eléctrico, canalização de água, bem como o apetrechamento em equipamento, incluindo a aquisição de mais computadores.
Depois de Pemba e quase ao mesmo tempo, o processo vai abranger a reabilitação da Escola Agrária de Mocumba, província da Zambézia, os Centros de Formação Profissional, actualmente sob a gestão do Ministério do Trabalho, localizados em Nampula, Beira e Maputo, bem como os institutos que funcionam nas mesmas cidades e a Escola Industrial e Comercial de Inhambane.
Para Eliseu Machava, governador de Cabo Delgado, as actuais exigências do desenvolvimento da sociedade e num mundo de globalização impõem a introdução de novas tecnologias e meios de produção ao alcance da força de trabalho, que deve ser transformada para o melhoramento do sistema de administração dos serviços do Estado e das empresas.
“Por isso, surge a necessidade de uma formação de quadros, técnicos e pessoal qualificado para assumirem os desafios para uma agricultura moderna e da criação de novas indústrias no país, de forma a assegurar o crescimento económico e com ele o bem-estar das nossas populações”, disse Machava.
O governante de Cabo Delgado entende que tudo isso gira à volta do Programa Quinquenal do Governo, mas pede o envolvimento dos empresários e a sociedade civil, chamados a participar e a apoiarem de múltiplas formas a concepção de programas de formação, na gestão de estabelecimentos de ensino e na partilha de responsabilidades com o Estado.
Maputo, Terça-Feira, 29 de Julho de 2008:: Notícias.

4/18/08

Órfãos de Pemba protegidos pelo Projeto Tutor.

Porto, 17 Abr (Lusa) - Cerca de 800 crianças órfãs, de Pemba, Moçambique, vão receber alimentos, vestuário e educação, através do apoio financeiro de voluntários do Projecto Tutor à Distância (PTàD), que é apresentado sábado, no Porto.
O Projecto Tutor à Distância, uma das principais iniciativas da Associação de Tutores e Amigos das Crianças Africanas (ATACA), consiste no apadrinhamento de crianças africanas órfãs, abandonadas ou pertencentes a famílias muito carenciadas. A iniciativa pretende mobilizar cidadãos portugueses e estrangeiros para se tornarem "padrinhos" de uma criança - preferencialmente órfã - pelo período mínimo de um ano, comprometendo-se a financiar mensalmente as despesas de sobrevivência.
O PTàD engloba três modalidades: "Tutor Total", cuja contribuição mensal é de 20 euros, que permite responder às despesas de alimentação, vestuário, saúde e educação, "Tutor Educação", de 10 euros mensais para as despesas de educação, e "Tutor Amigo", com contribuição mensal de cinco euros, em que mais de um tutor apoia a mesma criança, de modo a conseguir-se respostas para as diversas despesas. De acordo com a modalidade escolhida, os responsáveis pelo projecto devem indicar, aleatoriamente, uma criança e a sua ficha informativa com todos os dados do registo civil, situação pessoal e familiar e transmitir notícias e informações da criança, a cada trimestre.O sistema de contabilidade utilizado pelo PTàD implica que a cada despesa financeira corresponda um documento que justifique o gasto, sendo, portanto, necessário que a instituição transmita ao PTàD, antes do sucessivo depósito trimestral, um relatório relatando como foi gasto o valor enviado no trimestre precedente. A ATACA foi criada em Agosto de 2006, por cerca de 20 pessoas, a maioria ex-alunos de um colégio privado da cidade do Porto, que iniciaram o PTàD em Maputo e Quelimane, onde já beneficiam cerca de 200 crianças. As actividades da associação iniciaram-se através de protocolos com lares e centros de acolhimento de crianças, onde muitos voluntários já prestavam apoio.Em Quelimane, a associação trabalha com a "Casa Esperança", das irmãs Dominicanas Missionárias do Rosário. A ATACA apresentou a sua candidatura à Organização Não Governamental de Desenvolvimento (ONGD) apenas em 2007 "porque, entre outros formalismos, era necessário ter uma sede e um plano de actividades, o que já conseguimos", disse à Lusa Fernando Durana Pinto, presidente da direcção da associação. A associação manifesta grande necessidade de voluntários com formação específica, como educadores de infância e profissionais da área de gestão e pedagogia para o apoio contínuo das crianças. A apresentação do projecto para a cidade de Pemba vai decorrer na Casa da Cultura de Paranhos, Porto, e inclui uma exposição de fotografia de crianças africanas.
LUSA-Agência de Notícias de Portugal, S.A. 2008-04-17 18:50:01-RTP-Notícias.

4/17/08

Em Cabo Delgado, Ibraimo Binamo Ibraimo é um bom professor !

Interessante texto de Pedro Nacuo para o Notícias - Maputo de hoje que transcrevo. Só quem conhece o belo e agreste interior de Cabo Delgado pode dar valor ao trabalho e dificuldades encaradas com dedicação por esses jovens apostados em ensinar e educar as populações irmãs e carentes locais:
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Ibraimo Binamo Ibraimo: Um exemplo de professor!
Imbada, 21 de Fevereiro de 2008. É uma aldeia da localidade de Iba, posto administrativo de Muaguide, distrito de Meluco. Está a chover, logo a seguir ao início da sessão extraordinária do governo distrital, que estava sendo orientada por Eliseu Machava, governador provincial, que pela primeira vez ia visitar aquela divisão administrativa no centro da província setentrional de Cabo Delgado.
A chuva interrompe a reunião e o governador, afinal, havia decidido pernoitar naquela aldeia que fica a perto de 200 quilómetros da capital provincial. Escurece, o protocolo vai distribuindo os hóspedes pelas casas, cujos donos previamente haviam sido contactados. O “Notícias”, o Instituto de Comunicação Social e um fotógrafo do gabinete do governador, foram alojados numa residência cujo quintal nas noites servia de sala de sessões de vídeo, com música moçambicana.
Cá fora, numa barraca onde se vendia tudo quente, um grupo de jovens e adultos discutia os assuntos a apresentar, na manhã do dia seguinte, durante o comício de Eliseu Machava, um dos quais era a solicitação, ao governante, da devolução do professor Binamo, que acabava de ser transferido para uma outra aldeia. Era preciso que todos falassem da necessidade de o ver de volta!
A nossa Reportagem, curiosa, intrometeu-se no assunto e soube que havia ideias contrárias, que sustentavam que tal gesto seria prejudicial a ele, pois havia informações de que a referida transferência era-lhe benéfica, pois subira de grau na função, se bem que passara a coordenador duma Zona de Influência Pedagógica (ZIP).
Mesmo assim, era preciso saber quem de facto foi ele e com que magia era desejado que voltasse à Imbada. Na verdade, não custou muito encontrar as respostas. Foi-nos dito que o nome completo do professor é Ibraimo Binamo Ibraimo. Fazia parte de um grupo de oito professores. Foi adjunto-pedagógico da Escola Completa local, que no ano lectivo passado teve, até ao fim, 362 alunos de ambas as classes, discriminadamente, 231 da primeira à quinta classes e 82 da sexta à sétima classes.
O grupo de Ibraimo recebeu alunos provenientes de Nangororo, Iba (a sede da Localidade), Roma, Koko e Ntapuala, numa escola sem internato e criou condições para que os alunos fossem viver em casas de conhecidos ou fizessem as suas próprias cabanas e aos fins-de-semana fossem às suas aldeias para o reabastecimento em víveres.
Ao fim do ano, o quadro visto pelo “Notícias” apresentou o seguinte resultado: da primeira à quinta classes, 97 por cento de aproveitamento pedagógico e da sexta à sétima, 78,7 por cento. Desistências, abaixo de 2 por cento. Um servente da escola onde Ibraimo era professor, de nome José Omar Muahau, é a primeira pessoa que nos fala dos traços profissionais deste professor .
“Era um professor que sabia coordenar muito bem, a sua saída é para nós uma perda. Estamos a chorar por ele”, diz o servente, na presença da pessoa que substituiu, nas funções, Ibraimo Binamo, no caso o professor Ermelindo Sinoia Lapuane.
No segundo dia, as nossas dúvidas a respeito do professor citado acabaram definitivamente. Afinal, em algumas barracas, na sede da aldeia e na escola, estão colocados documentos dactilografados, que serviram para a despedida do professor, com o título “Adeus a todos” onde se pode encontrar uma boa parte da sua vida como ser social e, sobretudo, educador. Vamos ler:
“Por necessidade de serviço e segundo despacho do senhor director dos Serviços Distritais de Educação, Juventude e Tecnologia, ficou transferido desta escola, onde exercia a função de director Adjunto Pedagógico, para a EPC de Sitate, onde vai assumir o cargo de Director da Escola e Coordenador da ZIP, o vosso amigo, colega, irmão, filho, de nome Ibraimo Binamo Ibraimo”, começa o documento.
“Vou, mas um dia aqui voltarei”, prossegue, “tanto em viagens de serviço, como privadas, na perspectiva de que poderão de novo me acolher como sempre acolheram-me durante este longo e curto tempo que aqui vivi e convivi. Imbada fica marcada no meu coração e faz parte do meu pobre currículo, pelo facto de ter sido aqui onde: (1) pela primeira vez entrei numa sala de aulas como professor (2) onde pela primeira vez aprendi a assumir um cargo de chefia”.
Ibraimo acrescenta ainda: “estes factores fizeram com que Imbada ficasse inscrito no meu coração e que neste momento de despedida me torna difícil dizer ADEUS A TODOS (...) se durante este período terei ofendido ou maltratado a alguém, julgo que não foi por minha vontade. Talvez por se tratar de humano cometi erros, mas repito, não por minha vontade.
Seria difícil, senão mesmo impossível, viver numa comunidade mais de cinco anos sem errar. Errei, sou humano e para os ofendidos as minhas sinceras desculpas”, penitenciou-se, antes de entrar no rol dos agradecimentos.
“O meu grande agradecimento vai para toda a comunidade de Imbada, por ter-me acolhido e me dado o calor necessário como filho e irmão. Convosco aprendi muita coisa boa e foi convosco que aprendi a ser o que hoje sou. Mais uma vez, obrigado” e vira-se para os seus alunos:
“Desejo-vos boa sorte na vossa vida estudantil, de modo que amanhã estejamos juntos, não como alunos e professor, mas sim, meus colegas ou mesmo meus superiores hierárquicos. Estou convencido de que saberão aplicar melhor aquilo que comigo aprenderam”.
Aos colegas, Ibraimo Binamo Ibrahimo agradece a companhia na batalha contra o analfabetismo e diz que com eles também aprendeu muito e que foi fácil trabalhar por terem constituído um bom grupo, coeso e quase homogéneo. Pede desculpas aos que, mesmo assim, se tenham sentido, por qualquer motivo, ofendidos e termina justificando que quem trabalha erra.
Procurámos saber do dono da barraca onde lemos a despedida do professor, Cadre Momade, quem era o professor e a resposta não se fez esperar: era simplesmente um santo, sem exagero, gostava de todos e todos gostavam dele. Parecia natural desta aldeia. Ibraimo é um raro exemplo de como se pode trabalhar com a comunidade, seja ela do campo ou urbana!
Numa das ruas arenosas e poeirentas da aldeia deparámo-nos com Rachid Yahaia Árabe. Apresenta-se-nos como antigo aluno de Ibraimo Binamo, que nos explica que o seu professor havia começado a sua profissão precisamente naquela aldeia, em 2003. Em 2005 ascende ao cargo de adjunto pedagógico e que gostava das suas capacidades.
“Foi ele que começou a escrever a história desta escola, que criou um conselho onde a população tinha palavra e reunia com ela todos os meses. Tratava ao mesmo tempo dos problemas da escola e da comunidade, até ligados à saúde ou agricultura. Às vezes levava por escrito os problemas que a aldeia tinha, até ir falar com as direcções provinciais respectivas. Não discriminava a ninguém, fosse macua, maconde ou de outra etnia ou língua. A fonte de água que temos aqui foi graças ao seu esforço”, relata-nos Rachid Árabe.
Foi-nos indicado um aldeão que por pouco teria uma rixa com Ibraimo Binamo, resultante de uma relação que o professor quis sustentar com a sua filha, a viver na cidade de Pemba. Eduardo Issufo, mesmo assim, desvaloriza esse pequeno mal-estar que se havia instalado e justifica que, no cômputo geral, “ele era muito bom. É só ver que foi provocar a minha filha na cidade e não aqui. Ninguém desta aldeia dirá que ficou alguma vez ofendido com Ibraimo Binamo. Ele dava-se com toda a população e sempre estava à frente de todas as dificuldades da comunidade, porque mais esclarecido”.
No prosseguimento da viagem pelo distrito de Meluco, não sendo possível passar pela escola onde actualmente Ibraimo Binamo se encontra a trabalhar, cruzámos, mesmo assim, com o professor que era director em Imbada, no ano lectivo passado, quando aquele era adjunto pedagógico. Chama-se Inácio Maita Intapi Muapia, ora igualmente transferido para outra escola no interior do mesmo distrito. Muapia diz-nos que Binamo era um “professor de muita experiência de liderança. O seu exemplo de participação nas actividades programadas pela escola desmobilizava a qualquer colega ou aluno que quisesse ser relutante. Era um organizador, planificador”!
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AFINAL, UM PROFESSOR SEM FORMAÇÃO!
Todos os depoimentos à volta deste professor aumentavam a nossa curiosidade. Ibraimo Binamo não trabalha na rota escolhida, daquela vez, pelo governador, por isso, não seria daquela. De passagem pela sua actual escola, deixámos um bilhetinho, a pedir que fosse ter connosco na sede do distrito, para uma entrevista ao nosso jornal. Recebeu o recado, mas teve um acidente com a motorizada alocada pela Educação, na qualidade de coordenador da ZIP de Sitate, quando ia ao nosso encontro.
Tivemos que organizar mais uma viagem, no dia 26 de Março passado, especificamente para falar com este professor, cheio de dotes actualmente raros nos profissionais, não só da Educação. Encontrámo-lo no intervalo do almoço, na aldeia Sitate. Quem é o senhor, de que tanto se fala na aldeia Imbada?, perguntámo-lo, ao que respondeu:
“Sou professor que lá viveu como se fosse natural, durante cinco anos. A minha transferência foi um momento difícil, as pessoas estavam nos seus locais de produção, nas machambas. Não foi fácil! E não havia muito tempo, senão eu esperaria que voltassem das machambas e faria um encontro público para me despedir. Não sendo possível optei por escrever aquilo que o senhor chama documento, que colei nas paredes de algumas casas...”
Perguntámos a Ibraimo Binamo sobre a razão de o seu nome estar a resistir na comunidade de Imbada, sendo que já se encontra irreversivelmente em Sitate, uma aldeia muito distante daquela.
“É que se estamos na escola, estamos na comunidade. Não temos outra maneira de viver fora dela. Os problemas de água, higiene, as carências de todo o tipo são colectivos, por isso, eu estive na dianteira na organização de programas de limpeza, fazíamos encontros para falarmos da higiene, da saúde e da necessidade de evitarmos doenças. Todos nós fazíamos limpeza e nessa altura eu participava como uma pessoa da comunidade”, explica-nos.
Ibraimo Binamo notabilizou-se ainda mais na organização do desporto e na agricultura, abrindo hortas e diz que a maior parte das tarefas aqui referidas não deveria ser os alunos a realizar, nessa qualidade, mas sim, a própria população.
“ Nunca levei alunos para limpar poços de água, ainda que eu participasse nessa limpeza, na qualidade de aldeão, ou membro da comunidade. São essas coisas que as pessoas levam a sério e dizem o que dizem de mim. Mas falando a verdade, custou-me sair de Imbada. Estava mais ou menos organizado, a maior parte dos meus bens ainda está lá, não os transportei na totalidade”.
Voltamos, mesmo assim, à questão: quem é o professor Ibraimo Binamo?
“Sou meio de Nangade (por isso maconde) e meio de Montepuez (por isso macua), a minha mãe era de um lado e o meu pai do outro. Nasci dum feliz casamento entre maconde e macua. Estudei na Escola Secundária de Nangade e depois em Pemba, onde fiz a 12-classe. Fiquei um ano sem fazer nada e em 2003 comecei a trabalhar como professor contratado, directamente colocado no distrito de Meluco e muito precisamente na aldeia Imbada”.
Foi o ano em que se introduziu o segundo grau do ensino primário em Imbada, sendo que a responsabilidade ficou acrescida, tanto é que “quando cheguei a Imbada não havia nenhum professor formado. Éramos todos não formados, embora alguns tivessem alguma experiência”.
E mais tarde formou-se?, quisemos saber. Tendo dito que “eu não sou professor formado, meti agora documentos para pedir nomeação para ter um vínculo contratual com o Estado e daí poderei pedir uma formação. Falando sinceramente, eu estava à procura de emprego, porque não estava a fazer nada e encontrei este. Não estou arrependido, nunca enfrentei problemas que me fizessem pensar que falhei na escolha”.
Curiosamente, o director distrital de Educação, Juventude e Tecnologia em Meluco, Afonso Bacar, não sabia que o seu coordenador de ZIP não tinha uma formação psico-pedagógica. Suspeitámos que fosse pelas suas qualidades que não fazem prever que ele esteja a precisar de se armar com outros conhecimentos, desta feita, de índole teórico, já que a nível prático, o seu currículo diz muito.
Afonso Bacar quis convencer-nos que não havia nenhum director ou coordenador de ZIP sem formação. Entre Imbada, Muaguide, Meluco-sede, Minhanha, Mitepo, Ravia, Mitambo e Sitate, escolhemos esta última para lhe recordar que, sim, havia quem precisava dessa oportunidade, apesar da competência já revelada.
“É verdade, Ibraimo Binamo, mas é dos nossos melhores directores, um jovem dinâmico”, reconheceu o director distrital da Educação, Juventude e Tecnologia.
PEDRO NACUO - Maputo, Quinta-Feira, 17 de Abril de 2008:: Notícias